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Há 20 anos documentando o Projeto Harpia, a NITRO conecta a sociedade à causa da conservação da maior águia das Américas, ameaçada de extinção

 

De porte majestoso, muitas vezes ultrapassando dois metros de envergadura, a águia é uma insígnia de força e poder ao redor do mundo. No Brasil, onde está a maior delas – a harpia – esse poder transcende o que se vê. Considerada guardiã dos céus e da floresta, essa ave de rapina exerce um verdadeiro fascínio, decorrente do simbolismo cultural indígena e também do seu papel ecológico: a presença da harpia no ecossistema é um indicativo vital de equilíbrio.

Até 1997, a espécie era quase um mito em terras brasileiras, lembra o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Aureo Banhos, coordenador do Projeto Harpia na Mata Atlântica e em Carajás. Foi a partir daquele ano que a harpia começou a ser fonte de estudos no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), sob liderança da pesquisadora Tânia Sanaiotti, hoje uma referência internacional na pesquisa da harpia.

Com pouca informação sobre seu comportamento, distribuição e reprodução, especialmente nas florestas brasileiras, onde sua presença é mais ampla, o objetivo era encontrar e compreender a harpia em seu habitat, explica Banhos. “De lá para cá, são 27 anos de imersão na floresta, da imensidão amazônica aos fragmentos da Mata Atlântica, passando pelas zonas de transição com o Cerrado e o Pantanal. Atualmente o Projeto Harpia é uma rede nacional, formada por núcleos regionais, instituições, pesquisadores, estudantes, técnicos, moradores locais e fotógrafos.”

Em busca das harpias

Amante da vida selvagem, não demorou muito para que o fotógrafo João Marcos Rosa se encontrasse com o Projeto Harpia. Em 2003, ele fora ao Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais, para uma reportagem da Folha de S. Paulo ao lado do correspondente em Belo Horizonte, Thiago Guimarães. “Foi então que conheci o biólogo escalador Benjamin da Luz, do Projeto Harpia, que estava ministrando um curso sobre dossel, a copa das árvores. Ele me contou que fazia uma pesquisa sobre arquitetura de ninhos de harpias e me interessei por essa história, entendendo que, se ele pesquisava ninhos, ele sabia onde as harpias estavam. ”

Ninho de harpia na Floresta Nacional de Carajás (PA). Foto: João Marcos Rosa/NITRO

Levou um tempo para que Rosa conseguisse autorização para acompanhar a expedição liderada por Sanaiotti. O sim só aconteceu em 2004. Na época, Rosa era colaborador da National Geographic e conseguiu carta branca do editor Ronaldo Ribeiro para seguir com a história. “Acompanhei a Tânia por diversas vezes, em Parintins, em Manacapuru, na Amazônia; visitando o pesquisador Alexander Blanco, na Venezuela. Em 2006 publicamos a reportagem – que foi um marco na parceria com o Projeto Harpia. E foi nesse meio tempo, em 2005, que eu entrei para a NITRO”, conta.

Foi também em 2006 que Rosa fez os primeiros registros da participação de Aureo Banhos no projeto. “Lembro que eu estava coletando amostras em zoológicos e museus do Sul e Sudeste para o meu doutorado no INPA e o João já documentava o projeto há algum tempo na Amazônia. Ele não chegou apenas para fotografar. Ele chegou para aprender e caminhar junto. E isso fez toda a diferença.”

Com o tempo, Rosa, e depois a NITRO, conta Banhos, passaram a integrar o projeto. “João entendeu algo essencial: para proteger a harpia e a ciência é preciso contar histórias da espécie e das pessoas que se dedicam a ela. A nossa relação se transformou em amizade, parceria e uma profunda confiança. Eles olham para as pessoas e para a floresta com sensibilidade, beleza e compromisso. É mais do que documentar o projeto, é fazer parte e eterniza-lo em histórias visuais.”

“A conservação precisa ser sentida”

Desde então, a NITRO vem documentando o trabalho do Projeto Harpia. Além das fotografias em diversas expedições, realizou os livros “Harpia”, em 2010; e “Projeto Hárpia: 20 anos”, em 2018, assinado por João Marcos Rosa e Gustavo Nolasco. O coletivo também ajudou a contar a história de Tania Sanaiotti na websérie Mulheres na Conservação. “Produções preciosas que amplificaram o trabalho do Projeto Harpia”, ressalta Banhos.

“Eu estive presente em cada uma dessas produções e pude ver de perto a dedicação e o cuidado. É emocionante assistir a esses trabalhos. A harpia inspira. Quem vê uma harpia de perto, muda. E, como nem todo mundo pode estar em campo, os livros, a fotografia e a série levam essa experiência até as pessoas. O audiovisual humaniza o trabalho científico, inspira novas vocações, cria memórias e conecta a sociedade à causa. A conservação precisa ser sentida, não apenas compreendida. ”

Floresta Nacional de Carajás (PA). Foto: João Marcos Rosa/NITRO

Histórias e conexões

Ao longo de 20 anos de documentação da harpia no Brasil, na Venezuela, na Colômbia e outros países da América do Sul, muitas imagens inéditas da espécie foram produzidas. Comportamentos, ninhos, o trabalho dos pesquisadores em campo, das comunidades que atuam nas unidades de conservação, dos ribeirinhos –  conexões que ajudam a manter viva uma espécie ameaçada de extinção.

A construção desse acervo, que conta a história da harpia no Brasil, só foi possível graças ao tempo de observação e conhecimento da espécie. “É observando que se conhece seus movimentos, que conseguimos encontra-la no seu habitat. Apesar de ser muito grande, a harpia se camufla com muita facilidade”, conta Rosa.

E foi exatamente esse tempo de busca e observação que permitiu ao fotógrafo fazer a imagem mais simbólica da espécie –  a harpia carregando um tatu recém-abatido, foto que ele buscava há oito anos. A cena, documentada em Barra do Bugres, no Mato Grosso, em 2012, mostra toda a força e imponência desse bicho, em sua escala real.

Barra do Bugres (MT). Foto: João Marcos Rosa/ NITRO

Histórias como essa, que rodaram o mundo nos mais diversos idiomas (foram dezenas de reportagens em russo, italiano, espanhol, alemão e inglês para a BBC, National Geographic, Wild Life, Geo, as brasileiras Veja, Isto É, entre outras) foram essenciais para jogar luz à importância da harpia. “Conseguimos difundir, de maneira humana e profunda, a história da espécie, os desafios que acompanham sua escala superlativa, as árvores imensas onde elas constroem os ninhos, seu habitat, os filhotes. É uma espécie guarda-chuva, mas que precisa de muita gente para sobreviver.”

Para Aureo Banhos, as histórias da harpia contadas e difundidas pela NITRO simbolizam conexão – essencial para conservar a harpia. “Conectar florestas, porque a harpia precisa de paisagens contínuas, não de fragmentos. Conectar pessoas, porque cada região tem seus guardiões: pesquisadores, moradores que protegem um ninho, mateiros que sabem ler a floresta, gestores, fotógrafos, estudantes. Conectar conhecimento, porque ninguém domina tudo. Ecologia, genética, educação ambiental, manejo, políticas públicas: tudo precisa ser conectado. A harpia é uma espécie bandeira na conservação, mas também é uma espécie que nos conecta.”