Neste bate-papo com Karla Bittar, gerente de cultura do SESIMINAS, falamos do papel da fotografia, da importância de exibições públicas e de um dos maiores obstáculos das instituições culturais: democratizar o acesso à arte.

“Os Chicos”, “A Estrela” e “Estrada Real” foram exposições realizadas pela NITRO no SESIMINAS. Cada uma, a seu modo, propiciou reflexões que envolveram desde a cultura ribeirinha ao universo carcerário (tema pouco explorado no campo das artes). Na sua percepção, qual a importância de cada exposição e quais foram os impactos que elas geraram aos visitantes?
As exposições foram conduzidas com o rigor documental, a sensibilidade estética e o compromisso social que caracterizam o trabalho da NITRO.
“Os Chicos” foi uma mostra de grande delicadeza. Traduzia, em imagens de enorme potência poética, a relação dos ribeirinhos com as águas — suas rotinas, crenças e modos de vida moldados pelo tempo do rio. Foi uma celebração da natureza como extensão da própria existência, e o público reagiu com emoção diante dessa conexão.
“Estrada Real” foi um dos projetos mais abrangentes e emblemáticos da FIEMG. Essa exposição, além da beleza das imagens, revelou uma pesquisa visual e histórica linda — conectando três estados por meio de um percurso cultural, geográfico e simbólico que compõe parte essencial da identidade brasileira.
A reação do público foi de pertencimento e orgulho diante da história do nosso país.
Já “A Estrela” foi, para mim, uma das experiências mais impactantes que já vivi. As imagens, produzidas por detentos em oficinas fotográficas mediadas pela NITRO, traziam à tona um olhar singular sobre a vida e o tempo dentro do sistema prisional. Recebê-los no SESIMINAS, no dia da abertura, foi de uma força indescritível. A arte, ali, restituía humanidade e criava pontes de empatia entre mundos que raramente se encontram.
O público, que lotou o SESIMINAS nesse dia, foi amplamente tocado ao perceber que a arte tem, de fato, o poder de reescrever histórias e transformar realidades.

Qual o papel da fotografia e, em especial, da sua exibição pública em espaços como o SESIMINAS, para potencializar reflexões sobre questões sensíveis da nossa sociedade?
A fotografia tem uma capacidade única de articular memória, estética e reflexão. Quando ocupa um espaço público de arte, torna-se um campo fértil de escuta e diálogo, além de uma ferramenta poderosa de sensibilização e construção de consciência crítica.
Entendo a fotografia como uma linguagem contemporânea essencial – um instrumento de reflexão sobre o humano, o território e o tempo presente. Ao abrir espaço para projetos como os da NITRO, reafirmamos nosso compromisso em fazer da arte um lugar de pensamento e transformação social.

As exposições são espaços preciosos de reflexão e fruição artística. Apesar de seu valor inquestionável, elas ainda atingem uma parcela pequena da população, devido a problemas sociais históricos. O que pode ser feito pelas instituições artísticas para mudar esse cenário e ampliar o acesso de cada vez mais pessoas?
Democratizar o acesso à arte é um dos maiores desafios das instituições culturais contemporâneas. Exige mais do que abrir portas – requer construir caminhos reais de pertencimento.
É fundamental que os centros culturais, museus e galerias sejam percebidos como espaços vivos, abertos e acolhedores, onde as pessoas se reconheçam. No SESI Cultura, temos buscado ampliar esse alcance com programas educativos, mediação cultural constante, curadoria que contempla diversas linguagens culturais, parcerias com escolas, ONGs e comunidades, políticas de inclusão e acessibilidade, gratuidade e ações que aproximam novos públicos da experiência artística.
Mas acredito, sobretudo, que a transformação mais profunda acontece quando a arte é compreendida como um direito. Quando alguém entra em uma exposição e se sente parte daquilo – tocado, representado, transformado e acolhido, a arte cumpre sua função social.